segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Arte De Se Libertar

Capoeira é o chão: planície de terra batida. Capoeira é a dança: era preciso dissimular a luta em arte para que os senhores não reprimissem sua expressão. Capoeira é luta: seus pés, suas mãos e sua alma são armas. Capoeira é o homem: livre e, portanto, disposto a lutar, pois sabe que não existe liberdade sem luta.

De maneira geral nós acreditamos que Escravidão é um regime de trabalho empregado em alguns momentos da história econômica da humanidade e que nós somos livres.

Por definição a escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro, ao qual é imposta tal condição por meio da força. Na atualidade tal prática pode tomar o nome de cuidados paternos, ou amor filial, ou amor romântico, ou relação de trabalho...

O fato é que nossos grilhões apenas mudaram de forma e de cor.

Somos escravos da opinião alheia, da moda, dos símbolos de poder, das regras irracionais da nossa educação... E, sobretudo, das migalhas de afeto que estruturas tão falta dele como a nossa barganha em troca da nossa alma: "Se você mudar seu nome e seu telefone e amar somente a mim  e nunca mais aceitar afeto, atenção ou reconhecimento de outra pessoa que não seja eu, então eu talvez consiga lhe amar."

E, como antes, para alcançar a liberdade precisamos lutar.
Freud previu que por resistência a Psicanálise seria absorvida pela cultura e seus conceitos repetidos pelo senso comum, que confunde informação com percepção, para logo em seguida ser esquecida como uma disciplina obsoleta.

O fato é que os instrumentos através dos quais nos relacionamos com a realidade mudaram e a nossa percepção de tempo mudou, mas nossos anseios, desejos e necessidades fundamentais (negadas, reprimidas para que melhor participemos de nosso ambiente social) continuam as mesmas. E com isso, a percepção de si aflorada pela Psicanálise ainda tem o poder de libertar.

Porém, liberdade sem luta não é liberdade, é concessão. E toda luta envolve perdas e dor. Mas, uma vez liberto: os pés sem amarras, as mãos sangrando de alegria o corpo todo revitalizado pela consciência de sua força, como um escravo que se vê fora do cativeiro por seu esforço, pela sua coragem de enfrentar os seus medos, você vai sentir que sabe voar.

Reprodução do site: www.escoladepsicanalise.com.br
Autora: Débora Damasceno.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Reflexão III

"Aquele que faz análise tem uma relação diferente com o que chamamos de destino". (Sigmund Freud)

Em última análise, todo sofrimento nada mais é do que sensação, só existe na medida em que sentimos, e só o sentimos como consequência de certos medos pelos quais nosso organismo está regulado. (Sigmund Freud)


Feliz 2015.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Sabedoria


A sabedoria é a capacidade de olharmos para frente e para trás para enxergarmos os dois lados sem ilusões.

A sabedoria é perceber que a vida é uma viagem, cujo significado se encontra no próprio percorrê-la  e não em seu ponto de chegada.

Reconciliar em si mesma as forças opostas da natureza humana: o corpo animal e a mente divina. Basicamente, a terapia diz respeito à aquisição da sabedoria.

A compreensão sem conhecimento é impotente, porque falta à informação factual necessária ao controle de uma situação ou para efetuarmos as mudanças necessárias.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Ciúme: "Doença da Suspeita"

Pautada em uma visão psicanalítica pode-se afirmar que o ciúme que atormenta os adultos tem raízes na vida infantil, mobilizando forças primárias da vida psíquica, gerando atitudes irracionais, incontroláveis e inconscientes. O ciúme expressa o desejo de controlar e possuir unicamente para si a pessoa que se quer bem; traz consigo uma angústia de ser excluído, não suportando dividir a atenção da pessoa amada com mais ninguém. É uma forma infantil de amor, difícil de ser superada, é um amor possessivo, exclusivista, que não admite autonomia nem a independência do outro.

O ser humano desde o nascimento está submetido a forças e tensões que surgem do corpo e do ambiente, tem necessidade de ser reconhecido, receber atenção, sentir-se incluído e amado; a mãe e as pessoas que cuidam do bebê representam tudo o que ele deseja: fonte inesgotável de alimento e amor.

O ciúme nasce da saudade de um estado ideal, pleno de satisfação que se teve e foi perdido, misturado a um enorme ressentimento, onde provavelmente a criança foi negligenciada e desrespeitada, que lhe dá o direito de vingança sobre aqueles que pertubaram sua ilusão de perfeição infantil. A vida psíquica se assenta sobre esse estado primordial e inconsciente.

Willian Shakespeare referia-se ao ciúme como "o monstro de olhos verdes", uma metáfora sobre a cegueira induzida pelo sentimento que faz entrever como provável ou certo o que é apenas possível de acontecer. Em uma de suas obras mais populares, Otelo, o mouro de Veneza, o escritor aborda a "doença da suspeita", a desconfiança de que a mulher mantinha um relacionamento com um rapaz mais jovem levou-o a buscar e a acreditar ter encontrado provas da traição em fatos triviais.

Uma das características mais comum da pessoa ciumenta é a insegurança e a baixa autoestima, ela não acredita que tenha valor e mereça respeito. Quanto mais instável for seu sentimento de si mesmo, quanto mais frágil for sua organização pessoal, mais ela investirá seus ideais no parceiro, como uma forma extremada de obtenção da sua estabilidade e manutenção de si mesmo.

A psicanálise propõe a transformação da forma infantil de amar pela via da escuta, trabalhando a autoestima do paciente e ajudando a pessoa a elaborar o sentimento de exclusão e transfigurar o ciúme, o controle, a possessividade e a onipotência em dom criativo e singular.   

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Inveja

"Podemos descrever o nosso ódio, o nosso ciúme, os nossos medos, as nossas vergonhas . Mas não a nossa inveja"   (Francesco Alberoni)


Inveja, palavra proveniente do latim invídia, uma declinação do verbo invidere que significa "não ver". A inveja é conceituada no dicionário como o desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outra pessoa, desejo violento de possuir o bem alheio. O invejoso tem um sentimento de inferioridade e baixa autoestima, por isso tende sempre a se desvalorizar e a idealizar o objeto invejado, o prazer do invejoso é acabar com  o prazer do outro é não querer que o outro tenha. A inveja é uma emoção inerente à condição humana e é muito difícil alguém confessar que tem.

"Certa vez, um homem, extremamente invejoso de seu vizinho, recebeu a visita de uma fada, que lhe ofereceu a chance de realizar um desejo. Você pode pedir o que quiser desde que seu vizinho receba o mesmo em dobro, disse a fada. O invejoso respondeu, então, que queria que ela lhe arrancasse um olho". Moral dessa fábula: o prazer de ver o outro se prejudicar prevaleceu sobre qualquer vontade.

Para a psicanalista Melanie Klein, a inveja, assim como os demais sentimentos, vem desde o berço, pois até mesmo os bebês nutrem esse sentimento, eles invejam o seio materno, capaz de alimentá-los e confortá-los.

No processo de construção de identidade do ser humano, ocorre uma dinâmica entre o eu e o outro, onde cada pessoa acaba incorporando traços das pessoas ao redor, a inveja surge da identificação com o outro, sendo difícil sair da comparação com o que o outro é e com o que o outro tem. A pessoa abandona a sua própria fonte de inspiração, vontade de viver, para ficar o tempo todo prestando atenção e vivendo a possibilidade da vida alheia. As pessoas geralmente sentem inveja de quem é igual ou parecido, ninguém tem inveja dos inferiores ou muito superiores a elas. O lado sombrio da admiração é a inveja combinada à insatisfação que sentimos diante da nossa própria pequenez.

Uma questão que sempre aparece no consultório é a inveja que costuma fazer parte de muitos transtornos psíquicos, que quando somatizados, as pessoas apresentam quadro depressivo, autodestrutivo e agressividade. O invejoso é um ser insatisfeito e em casos patológicos, é capaz de caluniar, perseguir e em casos extremos, desejar a morte do invejado.

A melhor maneira de domar o sentimento primitivo de inveja é identificá-lo, aprender a lidar com ele, deixando de se comparar com as outras pessoas, eliminando os sentimentos de inferioridade e baixa autoestima, descobrindo suas qualidades e dons que foram reprimidos. Tudo isso com a ajuda de um bom profissional, que irá ajuda-lo na elaboração da sua história de vida.     

                                                  

Dalí é Freud no Instituto Tomie Ohtake

Ótima programação cultural e psicanalítica!

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/10/1534199-dali-e-freud-mostra-surrealista-chega-ao-tomie-ohtake.shtml



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Reflexão II

" A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade."

Sigmund Freud.



Feliz 2014!!!